A evolução de Anne Frank

No dia 7 de março de 1944, Anne descreveu as mudanças de seu comportamento e de sua forma de pensar ao longo destes anos. É interessante perceber as mudanças e os motiv
o de Anne, nessa época (07/03/1944) ela está começando a se apaixonar por Peter e as coisas começam a mudar dentro dela, o que faz com que ela pense e escreva (Vou colocar apenas alguns trechos para que o post não fique muito grande nem com muitos "spoilers"): 
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"Terça-feira, 7 de março de 1994

Querida Kitty,
Quando penso na minha vida em 1942, tudo parece irreal. A Anne Frank que desfrutava uma vida celestial era completamente diferente da que ficou ajuizada dentro destas paredes. Sim, foi
celestial. Cinco admiradores em cada esquina, umas vinte amigas, a preferida da maioria dos
professores, completamente mimada por mamãe e papai, sacolas cheias de doces e dinheiro para gastar. Que mais eu poderia pedir?"
...
"O que sobrou daquela Anne Frank? Ah, não me esqueci do riso nem das respostas afiadas, continuo boa talvez até melhor em deixar as pessoas pisando em brasas,
vez e ainda consigo paquerar e ser divertida, se quiser... Mas aí é que está o problema. Eu gostaria de ter aquela vida aparentemente descuidada e feliz durante uma tarde alguns dias, uma semana. No fim da semana, estaria exausta, e agradeceria à primeira pessoa que conversasse comigo sobre algo importante. Quero amigos, não admiradores.
Pessoas que me respeitem pelo caráter e pelo que faço, não pelo sorriso encantador. O círculo ao meu redor seria bem menor, mas não importa, desde que fosse composto por gente sincera."
...
"Apesar de tudo, eu não era totalmente feliz em 1942; costumava me sentir abandonada, mas como passava inteiro na agitação, nem pensava nisso. Eu me divertia ao máximo, tentando, consciente ou inconscientemente preencher o vazio com piadas.
Olhando para trás, noto que esse período de minha vida terminou de vez; meus dias de escola, felizes e despreocupados, se foram para sempre. Nem sinto falta Superei. Não posso mais ficar de brincadeira porque o meu lado sério sempre aparece.
Vejo minha vida até o Ano-Novo de 1944 como se estivesse olhando através de uma lente poderosa. Quando estava em casa, minha vida era cheia de sol. Depois, no meio de 1942, tudo mudou da noite para o dia. As brigas, as acusações... não podia me adaptar a elas. Fui apanhada desprevenida, e o único jeito de manter a individualidade era contra-atacar.
A primeira metade de 1943 trouxe acessos de choro solidão e percepção gradual de minhas falhas e meus defeitos, que eram numerosos e pareciam ainda maiores. Eu preenchia o dia com conversa fiada, tentava atrair *Pim e não conseguia. Isso me deixou sozinha com a tarefa de me
desenvolver, para que não tivesse de ouvir suas críticas, porque elas me segunda desanimada.
A segunda metade do ano foi ligeiramente melhor. Virei uma adolescente, e fui tratada como uma
mais crescida. Comecei a pensar em escrever coisas e em escrever histórias; finalmente conclui que os outros não tinham mais nada a ver comigo. Eles não tinham o direito de me virar para o lado e para o outro como o pêndulo de um relógio. Eu queria me modificar ao meu jeito. Percebi que podia me virar sem minha mãe, completa e totalmente, e isso doeu. Mas o que mais me afetou foi compreender que nunca poderia confiar em papai. Eu só confiava em mim. 
Depois do Ano Novo, aconteceu a segunda grande mudança: meu sonho, graças ao qual descobri que desejava... um rapaz; não uma amiga, mas um namorado. Também descobri uma felicidade interior, abaixo de meu exterior superficial e alegre. De vez em quando, ficava quieta. Agora só vivo para Peter, porque o que vai me acontecer no futuro depende principalmente dele."

*Pim era o "apelido" que Anne deu a seu pai

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